Amanhã, dia 5 de dezembro, comemora-se o Dia Mundial do Solo. Esta é uma data para ser lembrada com nossos colegas, alunos e com a sociedade em geral, que precisa cuidar melhor deste importante recurso natural. Por isso, a SBCS solicita a todos que neste dia 5 promovam reflexões sobre este tema, inclusive na imprensa da sua cidade. Para auxiliar nesta missão, o Presidente da SBCS preparou o texto abaixo que poderá ser distribuído e divulgado na sua comunidade. Desde já a SBCS agradece o apoio e a colaboração.
DIA MUNDIAL DO SOLO
Gonçalo S. de Farias *
Neste dia 5 de dezembro, a FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, realiza uma sessão especial em sua sede em Roma com o slogan “A day dedicated to healthy and productive soils” (“Um dia dedicado aos solos saudáveis e produtivos). Este evento acontece pela passagem do Dia Mundial do Solo, o qual foi proposto pela União Internacional de Ciência do Solo e endossado pela própria FAO em sua Assembleia Geral de junho deste ano para ser uma referência na agenda ambiental dos povos.
As discussões sobre as relações homem-natureza ainda estão muito focadas em clima e água, mas pouco se fala sobre o solo como meio capaz de sustentar a vida no planeta e que encontra-se ameaçado também por ações do homem em práticas predatórias nos usos urbano e rural.
O Solo fundamenta a vida no planeta pelas funções que lhe são inerentes. É base para produção de alimentos, fibras e energia; sustentáculo de cidades e infra-estrutura de transportes; fonte de matérias-primas e biodiversidade; suporte dos grandes ciclos biogeoquímicos; filtra e transforma resíduos; atua como reservatório de água e ainda mantém o registro histórico da evolução animal, vegetal e humana nos fósseis que abriga e nas ruínas de cidades, templos e caminhos estabelecidos ao longo dos séculos. Mas os solos não têm sido bem cuidados e preservados com atenção que merecem. O Brasil, por exemplo, ainda perde milhões de toneladas de solo anualmente nos diversos sistemas de uso desse recurso natural e cuja imagem mais recorrente é a de rios impregnados de sedimentos.
Essa camada que recobre o globo, denominada Pedosfera, é um sistema complexo que sustenta a vida humana e constitui um dos seis grandes sistemas terrestres (junto com a atmosfera, a hidrosfera, a biosfera, a litosfera e a criosfera), mas é suscetível à degradação e pode ser considerado um recurso natural não-renovável quando medido na escala antropológica do tempo.
Nosso país, em seus 851 milhões de hectares de área territorial, possui centenas de tipos de solos, classificados científicamente e agrupados em treze Ordens (num siatema hierárquico de seis níveis categóricos), das quais a mais representativa é a Ordem dos Latossolos, que são aqueles solos mais profundos em paisagens de relevo suave-ondulado e que estão presentes em todos os biomas. Descontando-se a área coberta por águas, os solos brasileiros se estendem por 835 milhões de hectares, onde as lavouras e pastagens ocupam cerca de 40 %, as florestas e áreas protegidas cerca 50% e os 10% restantes se referem a cidades, estradas, etc. Do ponto de vista quantitativo são números que impressionam.
Se as constatações mostradas acima com foco no Brasil fazem sentido para justificar a existência de um dia especialmente dedicado ao Solo, muito mais o fazem quando transpostas para a escala mundial , pois os problemas se agravam em muitos países asiáticos e africanos, principalmente. Não está na hora de restituir-lhe seu papel fundamental no campo das preocupações ambientais e do desenvolvimento sustentável? Imprensa, governos, gestores ambientais e até professores de escolas básicas precisam colocar o solo na pauta de suas percepções, ações e compromissos.
É o que tem feito no Brasil uma das mais tradicionais sociedades científicas: a SBCS – Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Fundada em 1947 e atualmente sediada no Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa-MG, possui cerca de 1.300 associados. Ela congrega os cientistas do solo e profissionais de extensão rural e assistência técnica, organiza eventos, produz artigos e os faz circular em revistas especializadas, mostrando que a ciência, a tecnologia e a inovação estão disponíveis para o uso e o manejo sustentável do solo.
Conhecimento especializado nesse campo não falta ao Brasil. Da mesma tem-se buscado ações políticas para que a sociedade, governos, entes públicos e privados coloquem o solo no foco das questões ambientais. Mas é preciso que haja mais comprometimento dos agentes que traçam os rumos das tais políticas. A ação da FAO demonstra uma preocupação internacional, tanto é que, além deste Dia Mundial do Solo como um momento reflexivo, estabeleceu também que 2015 será o Ano Internacional do Solo e criou recentemente o Consórcio Mundial do Solo (onde nosso país tem importante participação). Precisamos agora tornar tais datas e ações percebidas e assimiladas pela sociedade brasileira , ainda mais porque temos cada vez mais a responsabilidade de contribuir expressivamente para a segurança alimentar num planeta de sete bilhões de habitantes. Os dados científicos de degradação do solo por erosão e práticas inadequadas de uso e manejo demonstram que este não é mais um problema que demanda soluções no futuro breve, mas sim no presente!
* Pesquisador do Iapar e Presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (www.sbcs.org.br)